sexta-feira, 25 de março de 2011

Retiro de Quaresma - reflexões da 3ª semana

Retiro de Quaresma - reflexões da 3ª semana

Prossigamos com as nossas reflexões para o período da Quaresma, em textos preparados pelo Ministério de Formação. Neste ano, aprofundaremos a questão do princípio da Verdade, uma das moções recebidas pelo Movimento para estes tempos em que vivemos. Vamos refletir e orar juntos, todos os dias!
III SEMANA DA QUARESMA
Tema: Consertando nossas redes – Princípio da Verdade
Continuamos nosso caminho rumo à maior festa do cristianismo: a Páscoa. De maneira muito linda, Deus nos presenteou com direções profundas, levando-nos a uma verdadeira conversão.
Domingo
Neste domingo, a palavra de Deus proclamada nos convida a um diálogo sincero com o Senhor. O evangelho de João, no capítulo 4, relata a passagem da “Samaritana”. A leitura conta que Jesus, sentado no poço de Jacó, conversa com esta mulher que vem buscar água. No diálogo, Jesus revela a verdade de sua vida e fala a ela com caridade. A Samaritana acolhe as palavras Dele, reconhece serem verdadeiras, aceita a proposta e recebe a água viva.
Vamos trazer este evangelho para nossa vida. Sentemos também as margens de nossa história, apresentando para Jesus o que nós estamos buscando. A Samaritana buscava água e nós, o que temos buscado? O que estamos precisando para saciar a sede de nossa vida? Vamos conversar com Jesus sobre isso.
No Evangelho, Jesus mostra a ela que sabe tudo sobre sua vida, a ponto de dizer que o marido que ela tem também não é dela. Então, aquela Samaritana compreende que só Ele tem a água que pode saciar sua vida, lavar sua história e preencher seus vazios.
Aproveitando a oportunidade que a liturgia nos dá, fiquemos um momento a sós com Jesus e deixemos Ele se manifestar em nossa vida, a fim de que nesta semana possamos mergulhar nele que é “o caminho, a verdade e a vida” (Jo 14,6). Podemos dialogar com Jesus contando para Ele o que temos feito e buscado. Deixemos que assim nos dê suas palavras que são de vida eterna.
Segunda-feira
Temos várias direções dadas pelo Senhor a toda Renovação Carismática Católica. Ele nos mostra que quer pautar nossa vida no princípio da verdade, inclusive podemos perceber em palavras proféticas que Ele nos exorta a deixar de lado toda simulação, toda mentira, toda duplicidade. Ele pede para sermos verdadeiros uns para com os outros e analisarmos as nossas intenções.
Para nos ajudar a compreender melhor o desejo de Deus para nós, busquemos auxílio no Catecismo da Igreja Católica. Com ele poderemos conhecer melhor as formas de deixar nossa vida ser pautada por este princípio. Vejamos :
a) Somos chamados a viver a verdade. Ter nossa vida assinalada com o princípio da verdade. Isto nos é afirmado no Catecismo da Igreja Católica, no nº 2465: “Deus é fonte de toda verdade. Sua Palavra é verdade. Sua lei é verdade ...os membros de seu Povo são chamados a viver na verdade”.
b)  Como discípulos de Jesus Cristo, somos movidos por sua Palavra. Nela esta nossa norma de vida, ela nos liberta e nos santifica. Assim podemos refletir: minha vida esta movida pela Palavra de Deus? Se digo mentira, estou sendo escravo dela. Compare o nº 2466: “Em Jesus Cristo, a verdade de Deus se manifestou plenamente... O discípulo de Jesus ‘permanece em sua palavra’ para conhecer ‘a verdade que liberta’ (Jo 8,32) e santifica. Seguir a Jesus é viver do ‘Espírito da verdade’ que o Pai envia em seu nome e conduz ‘à verdade plena’ (Jo 16,13). Jesus ensina a seus discípulos o amor incondicional da verdade: ‘Seja o vosso sim, sim, e o vosso não, não’ (Mt 5,37)”.
c) Quem segue Jesus Cristo procura viver como Ele nos ensinou. Portanto, para nós é pedido falar sempre a verdade, renunciar a mentira, proclamar a Boa Noticia, ser sempre sincero e agir na verdade com caridade. Podemos nos analisar: estamos agindo assim? Veja o nº 2468: “A verdade como retidão do agir e da palavra humana tem o nome de veracidade, sinceridade ou franqueza. A verdade ou a veracidade é a virtude que consiste em mostrar-se verdadeiro no agir e no falar, guardando-se da duplicidade, da simulação e da hipocrisia”.
d) Se não estou dizendo e agindo conforme a verdade, isso significa que estou sendo falso e a falsidade sempre prejudica. Praticar a verdade é estar aberto para crescer nas virtudes. Novamente fiquemos atentos aos ensinamentos do nº 2469 do Catecismo: “A virtude da verdade devolve ao outro o que lhe é devido”.
e) O convite para nós neste dia é viver na verdade. Vamos olhar para nós mesmos e perceber se estamos escondidos atrás de alguma mentira, de alguma ilusão e se esforçar para seguir o exemplo de Cristo. Diz o nº 2470: “O discípulo de Cristo aceita ‘viver na verdade’, isto é, na simplicidade de uma vida conforme o exemplo do Senhor permanecendo em sua verdade. ‘Se dissermos que estamos em comunhão com Ele e andamos nas trevas, mentimos e não praticamos a verdade’ (1Jo 1,6)”.
Vamos rezar de acordo com as reflexões que fomos fazendo em cada item citado pelo Catecismo da Igreja Católica. É interessante até anotarmos o que temos aprendido com esses ensinamentos e o que estamos sentindo Deus falar conosco através dos momentos de oração.
Terça-feira
Estamos vivenciando um período de reflexão sobre a prática da verdade. Neste dia, vamos novamente nos apoiar nos ensinamentos da Igreja, através do Catecismo da Igreja Católica, e perceber que somos privilegiados, afinal temos instruções dados pela Igreja e um grande modelo a seguir que é o próprio Jesus Cristo.
De maneira muito clara, vamos mergulhar no sentido de darmos testemunho da verdade, diz o CIC 2472: “O dever dos cristãos de tomar parte na vida da Igreja leva-os a agir como testemunhas do Evangelho e das obrigações dele decorrentes. Esse testemunho é transmissão da fé em palavras e atos. O testemunho é um ato de justiça que estabelece ou dá a conhecer a verdade: Todos os cristãos, onde quer que vivam, pelo exemplo da vida e pelo testemunho da palavra, devem manifestar o novo homem que pelo Batismo vestiram e a virtude do Espírito Santo que os revigorou pela confirmação”. Isso significa que quanto mais autêntico eu for em relação à vivência da palavra de Deus, mais estarei agindo conforme a verdade e a fé.
Encontrar-se com Jesus Cristo é encontrar-se com a verdade em nossa vida. O Papa
Bento XVI dizia aos Movimentos Eclesiais e Novas Comunidades em 2006: “A força de um líder está em encontrar Aquele que é a Verdade e a reproduzir esta verdade dentro de si e nos seus relacionamentos. As pessoas vivem como se a verdade não existisse, como se o desejo de ser feliz que está no coração do homem fosse destinado a ficar sem resposta”. Este encontro com Cristo pode desenvolver em nós um testemunho autêntico de seguidor de Cristo.
Vamos orar neste dia agradecendo a Jesus porque nos encontramos com Ele. E esse encontro tem causado em nossas vidas muitas transformações. Depois de louvá-lo, vamos renovar nosso compromisso de viver e testemunhar o evangelho com nossa vida.
Quarta-feira
Um próximo passo em relação à pratica da verdade é seguirmos o que o Catecismo da Igreja Católica nos ensina e refletir sobre as ofensas a verdade.
Vamos rever alguns pontos importantes neste dia:
2475 – “Os discípulos de Cristo "revestiram-se do homem novo, criado segundo Deus, na justiça e santidade da verdade" (Ef 4,24). ‘Livres da mentira’ (Ef 4,25), devem ‘rejeitar toda maldade, toda mentira, todas as formas de hipocrisia, de inveja e maledicência’ (1Pd 2,1)”. O Senhor nos revestiu do homem novo. Aproveitando esta reflexão vamos enumerar todas as coisas que ainda gritam forte dentro de nós e que nos impedem de viver a verdade. Nesta lista, devemos abordar todas as coisas que ainda são contra a verdade do Evangelho em nossa vida e buscar auxílio em Jesus para sermos fortes diante de nossas fraquezas.

2476 - “Quando emitida publicamente, uma afirmação contrária à verdade assume uma gravidade particular. Diante de um tribunal, torna-se um falso testemunho... Essas formas de agir contribuem para condenar um inocente, para inocentar um culpado ou para aumentar a sanção em que incorre o acusado. Elas comprometem gravemente exercício da justiça e a eqüidade da sentença pronunciada pelos juízes”. Diante desta afirmação, vamos retomar todas as vezes que mentindo atrapalhamos a vida de nossos irmãos. Vamos pedir perdão a Deus pelo vício da mentira em nosso cotidiano. Até se achamos que é algo pequeno que não faria mal algum, peçamos perdão porque com certeza prejudicamos alguém.

2482 - "A mentira consiste em dizer o que é falso com a intenção de enganar. O Senhor denuncia na mentira uma obra diabólica: ‘Vós sois do diabo, vosso pai, (...) nele não há verdade: quando ele mente, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso e pai da mentira’ (Jo 8,44)”. Fomos criados a imagem e semelhança de Deus, somos filhos de Deus. Se Ele é verdade devemos agir sempre com verdade. Percebemos nesta passagem bíblica que o pai da mentira é o demônio. Se estamos habituados a dizer mentira, temos a oportunidade de nos reconciliar com Deus. Devemos renunciar a toda mentira e deixar que o Espírito Santo, que é o Espírito da verdade, nos ensine a agir sempre conforme a verdade. Eis mais uma verdade que nos motiva a agir sempre testemunhando a verdade: CIC 2486 “A mentira contém em germe a divisão dos espíritos e todos os males que ela suscita; mina a confiança entre os homens e rompe o tecido das relações sociais”.
Quinta-feira
Estamos caminhando para transformar nossas ações conforme a prática da verdade. Esta semana somos encorajados a assumir quais são as mentiras que estavam tentando nos enganar e tirar o foco de nossas ações diante da verdade.
Nesta quinta-feira, aproveitemos para adorar Jesus e dizer a Ele que assumimos em nossa vida as práticas da verdade. Olhando para Jesus encaramos a verdade em nossa vida. Quanto amor o Senhor tem derramado sobre nós, quantas vezes diante desse amor somos lavados de toda maldade, de toda mentira, de toda ilusão e de toda falsidade.
Vamos olhar e contemplar a beleza de Deus que também nos olha. Aproveitemos a moção dada através da palavra em Apocalipse 3, 18: “Aconselho-te que compres de mim um colírio para ungir os olhos para que possas ver claro”. A moção é a de olhar com os olhos do Espírito da Verdade onde está o desajuste, o excesso, a ilusão na nossa vida. Apenas olhando para Jesus deixemos que Ele vá colocando em ordem os desajustes.
Ainda olhando para Jesus, podemos trazer até a nossa memória quais são as áreas de nossa vida que ainda estão sendo vividas na ilusão da mentira. Sem ter receio do que Jesus pode fazer, apresentemos o que tem em nosso coração e deixemos que Jesus, “caminho, verdade e vida”, trabalhe em nós fazendo obra de restauração.
Este colírio é derramado em nossos olhos conforme vamos olhando para Jesus. Este olhar vai penetrando nosso olhar e somos agraciados com o olhar de misericórdia que tira de nós todas as escamas que estavam nos impedido de caminhar no caminho da verdade.
Que o Espírito Santo nos dê uma visão nova e nos conduza na prática da verdade.
Sexta-feira
Chegamos à sexta-feira. Talvez para você este seja um dia de jejum de penitência, e é oportuno também percebermos que, diante da reflexão desta semana, Deus nos garante oportunidades para entrar na prática da verdade. Entrar nesta prática com certeza vai gerar em nós mudança de vida. É decisão pela verdade, é decidir por Aquele que é a verdade!
A penitência que vamos realizar hoje pode ter como intenção a mudança de vida, a conversão de nosso coração, a decisão em viver a verdade. Devemos saber que não precisamos nos esconder atrás de mentiras. Não precisamos nos enganar com ilusões.
Vamos orar nesta sexta-feira nos comprometendo com a verdade. Quando me comprometo com a verdade, vou até as áreas mais profundas de minha vida, apoiado na força do Espírito Santo, e deixo que seu amor me fortaleça para arrancar de mim o que é mau, o que me é enganador.
Busquemos mais uma vez a Palavra de Deus em Efésios 4,25: “Renunciai a mentira. Fale cada um a seu próximo a verdade, pois somos membros uns dos outros”. Apoiados nesta palavra, se já atingimos alguns irmãos com a mentira vamos reparar este erro. Em primeiro lugar é preciso reconhecer que pecamos, depois nos reconciliarmos.
Pode ser que tenhamos mentido para nós mesmos, tentando nos enganar; pode ser que tenhamos falado mentira para alguém para tentar se sair bem em alguma situação; pode ser até que estejamos vivendo uma mentira. Por isso, como diz a palavra, “renuncia a toda mentira”. Após reconhecer o erro, vamos dizer: eu renuncio, eu não quero mais! Se consigo proclamar isso, posso me confessar e me comprometer com a verdade como propósito de vida.
Sábado
Hoje é o dia que rezamos com Nossa Senhora. Ela é aquela que apoiou sua vida na Palavra de Deus e viveu a verdade em todo tempo. Em nenhum momento de sua vida se enganou. Sempre esteve centrada na palavra de Deus. 
Vamos neste sábado rezar a oração do terço pedindo a Nossa Senhora que interceda por nós para que possamos viver a verdade em cada instante de nossa vida. Em cada dezena do terço vamos colocar um pedido a Virgem Maria:
1º mistério - vamos pedir que Nossa Senhor rogue por todas as pessoas que nós ferimos com a mentira, e por todos os efeitos negativos que a mentira causou em nossa vida.
2º mistério - vamos pedir que Nossa Senhora nos ensine a viver comprometidos com a verdade.
3º mistério - que Nossa Senhora nos auxilie na prática constante da verdade em nossas palavras e atitudes. Que saibamos pautar nossa vida no exercício da verdade.
4º mistério – que Nossa Senhora nos ensine a sempre buscar na Palavra de Deus nosso jeito de agir e de compreender as coisas.
5º mistério – que pela intercessão de Nossa Senhora possamos sempre ter em nossos lábios palavras de louvor a Deus, principalmente neste dia que possamos louvar porque a verdade nos liberta e nos faz entrar no plano de Deus.
 

terça-feira, 22 de março de 2011

II Semana do Retiro da Quaresma

Retiro de Quaresma - reflexões da 2ª semana


II SEMANA DA QUARESMA
Tema: Consertando as redes – Princípio do Bem
Depois de ter nos apropriado de conceitos que nos levaram a mergulhar no principio de nossa identidade de “filhos de Deus”, nesta semana somos impulsionados pelo Espírito Santo na dimensão do princípio do bem. De maneira muito simples, porém, profunda queremos consertar as redes de nossa vida no que diz respeito “prática do bem”.   Podemos dizer “consertar as redes”, porque a passagem que esta sendo rhema neste tempo (Lucas 5,5), nos leva a refletir onde nossas redes precisam ser consertadas. Neste sentido compreendemos que Jesus está nos pedindo para pescar. Como a rede é instrumento de pesca, vamos consertá-la para pescar, mesmo onde parece não haver peixe. Se acreditarmos firmemente que nesta palavra, podemos experimentar coisas maravilhosas, mesmo se anteriormente já tenhamos tentado e nada pescado.
Domingo
Hoje é o segundo domingo da quaresma, a liturgia da Igreja nos convida a refletir sobre a “transfiguração”(Mt 17,1-9). É interessante percebermos que em outras passagens do Evangelho sempre há várias pessoas em volta de Jesus. Se observarmos na passagem de Lucas 5,1ss, o povo se comprimia para ouvir a Palavra; no sermão da montanha (Mt 5), relata-se que Jesus vendo a multidão, subiu a montanha, sentou-se e seus discípulos aproximaram dela. Na sequência, em Mt 8, afirma-se que, tendo Jesus descido a montanha, uma multidão o seguia. No mesmo capítulo, no versículo dezoito, vemos que, “no meio de grande multidão”, ordenou que O levassem para outra margem.
Enfim, podemos perceber que na passagem da transfiguração não temos uma multidão, nem doze, mas apenas três: Pedro, Tiago e João. Podemos perceber que no decorrer de nossa caminhada muitos são aqueles que vão seguindo Jesus. Se você lembrar da época de nosso primeiro encontro com Jesus, quantos estavam conosco? Também percebemos que no decorrer de nossa caminhada, vamos nos comprometendo com o Senhor, e não são muitos os que perseveram. Tomando por base a transfiguração, não é que os outros discípulos não perseveraram, mas sim que Jesus escolhe três para subir a montanha e vê-lo transfigurado. Talvez hoje, dos muitos que iniciaram a caminhada, você seja como um dos três que foi escolhido por Jesus para viver este momento especial com Ele. Aos três, Pedro, Tiago e João, foi concedida a graça de ver Jesus se transfigurando, de certa maneira, experimentaram a graça da glória, e eles foram preparados para o momento de calvário que Jesus iria passar.
Percebamos que ao ouvirem a voz de Deus dizendo “Este é meu filho muito amado, no qual pus todo meu agrado”, eles caem com rosto por terra. Reconhecem a glória de Deus, sabem então que estão diante do Senhor. Mas preste atenção a um detalhe importante: “Jesus se aproxima, toca neles e diz : ‘Levantai-vos e não tenhais medo’”.
Vamos nos apropriar deste Evangelho, que é o anuncio forte da boa nova para nós, deixemos que essas palavras possam trazer para nossas vidas a glória de Deus. Somos escolhidos porque estamos diante deste Evangelho, a transfiguração pode acontecer conosco também. Certamente se experimentarmos essa Glória, jamais vamos abandonar o Senhor. Esta é graça dada aqueles que estão a caminho, que são mais próximos de Jesus, que receberam de Jesus um chamado especial e acolheram.
Realmente Jesus se revela de maneira muito forte aos três, porque até diz “não conteis isso a ninguém até que o Filho do Homem tenha ressuscitado dos mortos”. Percebam, se Deus diz em primeiro momento “este é meu Filho muito amado” e agora Jesus diz “não contem até que o Filho do homem tenha ressuscitado dos mortos”, é sinal de que aos três foi revelado o que haveria de acontecer com Jesus. A glória de Deus em nossa vida revela os sinais de Deus. Hoje, baseando-se neste Evangelho, deixamos a glória de Deus entrar em nossa história, sem ter medo de colocar o nosso rosto por terra diante da realeza de nosso Deus. Façamos louvores a Deus por estarmos perseverando na caminhada, porque Ele se aproximou de nós e nos tocou. Porque sua palavra nos ordena para “levantar e não termos medo”. Se por ventura há medo te rondando diante do que é vontade de Deus para você, apresente-os a Jesus e deixe que Ele nos sustente com sua força.
Segunda-feira
Temos a oportunidade de rever nossa vida, apoiados no que Deus tem falado para nós. De maneira especial nesta semana sobre a prática do bem. Se puxarmos em nossa memória os direcionamentos dados, percebemos que na vocação de viver a vida no Espírito, nos abrimos para vivência da prática do bem.
Quando pensamos em praticar o bem, precisamos muito do auxílio do Espírito Santo, pois sofremos com tantas situações de maldade, violência, mentiras, tribulações, e muitas vezes ficamos condicionados às reclamações e até somos conduzidos a algumas práticas que não condizem com o bem.
Temos uma passagem bíblica que está nos motivando à reflexão. É do Salmo 36: “Espera no Senhor e faze o bem; habitarás a terra em plena segurança” (v. 3). Neste versículo,  vamos apresentar ao Senhor as situações que nós estamos esperando nele, pois a palavra diz “espere no Senhor, faze o bem”. Se porventura a espera está sendo difícil e nós estamos esquecendo da prática do bem, vamos reiniciar um compromisso com o Senhor de procurar fazer o bem.
“Os justos o Senhor sustenta. O Senhor vela pela vida do justo, não será confundido no tempo da desgraça e nos dias de fome será saciado” (v. 18-19). Sabemos que a Palavra de Deus é verdade, nela depositamos nossa confiança. Nestes versículos, o Senhor nos lembra que Ele sustenta os justos, vela por sua vida, não confunde no tempo da desgraça. É momento oportuno para pedir perdão ao Senhor por todas as vezes que nos momentos de provação, de tribulações deixamos a murmuração, o desânimo e o julgamento dominarem nossas ações.
“Ainda que caia não ficará prostrado, porque o Senhor o sustenta pela mão” (v. 24). Diante dessas palavras, podemos lembrar todas as vezes que o Senhor nos levantou, todas as vezes que a bondade de Deus inundou nossa vida de força, de coragem. Quando olhamos para o trecho que diz o “Senhor sustenta pela mão”, nos sentimos amparados, pois a mão poderosa de Deus nos sustenta. Vamos orar, segurando na mão poderosa de Deus, pedindo que Ele nos conduza sempre pelo caminho do bem, nos ensinando a praticar o bem, sobretudo impulsionando-nos a caminhar com segurança.
“Vem do Senhor a salvação dos justos, que é seu refúgio no tempo da provação. O Senhor os ajuda e liberta; arranca-os dos ímpios e os salva, porque se refugiam nele” (v. 39-40). Segundo o texto, portanto, fazer o bem nos alcança o favor de Deus.
Depois de ter rezado com esses versículos podemos repetir aquele que mais nos chamou a atenção. Encerramos esse dialogo com a Palavra de Deus com um louvor.
Terça feira
Queremos nos apoiar no que diz o catecismo da Igreja Católica no nº 1723: “A bem-aventurança convida-nos a purificar nosso coração de seus maus instintos e procurar o amor de Deus acima da tudo. Ensina que a verdadeira felicidade não está nas riquezas ou no bem-estar, nem na glória humana ou no poder, nem em qualquer outra obra humana por mais útil que seja, como as ciências, a técnica e as artes, nem em outra criatura qualquer, mas apenas em Deus, fonte de todo bem e de todo amor”. O convite que nos é feito pela Igreja é “purificar nosso coração”, e é interessante perceber que já aponta o que deve ser purificado em nós: “os maus instintos”. Este tempo é propicio para isso. Diante do amor de Deus, vamos mergulhar nosso coração, sem reservas, para que tudo o que temos guardado no sentido de sentimentos, de preocupações, de insatisfações, de descontentamentos, de inquietações, possa ser purificado.
Deus respeita sempre nossa decisão, Ele aguarda nossa escolha. Portanto, como sabemos que Deus nos criou para ser amor e nos realizarmos no amor, vamos, no dia de hoje, mais uma vez, decidir pelo “amor”, deixando que todas as raízes do amor cresçam em nós. Sintamos o amor de Deus lavando nosso coração, nossos sentimentos, nossa mente, nossos pensamentos, uma ótima oportunidade para deixar que nossas inclinações para o mal sejam lavadas em nós.
Apoiados no que nos ensina o Catecismo da Igreja Católica e na passagem de Filipenses 4, 8, vamos rezar: “Além disso, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, tudo o que é virtuoso e louvável, eis o que deve ocupar vossos pensamentos”. Por um lado, mergulhamos nosso coração no amor de Deus para limpar os maus instintos, e agora, com a Palavra de Deus, oramos clamando que este versículo de Paulo aos Filipenses aconteça em nossas ações.
Quando deixamos os maus instintos, nos abrimos para o que é bom. São Gregório nos ensina: “O objetivo da vida virtuosa é tornar-se semelhante a Deus”.
Quarta-feira
O tempo da quaresma é tempo de Penitência, de conversão. Como estamos refletindo sobre a prática do bem, é importante perceber que, ao reconhecer em nós o que não está de acordo com o bem, significa que podemos estar apoiados no que é mal. Num aspecto bem prático, o que nos auxilia neste caminho de conversão é justamente reconhecer onde podemos melhorar. Acontece que muitas vezes até sabemos o que precisa ser melhorado em nós, mas encontramos dificuldades por causa de nossas próprias fraquezas. Como já é de nosso conhecimento, nossa Igreja nos presenteia com o sacramento da reconciliação. Que tal aproveitarmos este tempo para buscar neste sacramento a graça da reconciliação: consigo mesmo, com Deus e com os irmãos?
Por falar em sacramento da reconciliação, o Catecismo da Igreja Católica nos lembra o sentido da penitencia que recebemos no momento da confissão. Gostaria de partilhar com você, para que juntos possamos nos apropriar melhor de todas essas graças que podemos receber. Diz assim: “A penitencia pode consistir na oração, numa oferta, em obras de misericórdia, no serviço do próximo, em privações voluntárias, sacrifícios e principalmente na aceitação paciente da cruz que temos para carregar. Essas penitências nos ajudam a configurar-nos com Cristo que, sozinho, expiou nossos pecados uma vez por todas” (CEC 1460).
Que graça, meus irmãos, podemos receber: além de sermos perdoados pelos pecados, para vencer nossas fraquezas, temos a oportunidade de nos penitenciarmos. O propósito de Deus para nós nesta semana é crescermos na prática do bem, continuamos orando pedindo a ação do Espírito Santo em nossa vida, ensinando-nos a viver o evangelho, modelando nossas ações para o bem. Aproveite também para realizar neste tempo uma boa confissão.
Quinta-feira
O Catecismo da Igreja Católica diz, no número 1704: “A pessoa participa da luz e da força do Espírito divino. Pela razão é capaz de compreender a ordem das coisas estabelecida pelo Criador. Por sua vontade, ela é capaz de ir ao encontro de seu verdadeiro bem. Encontra sua perfeição na busca e no amor da verdade e do bem”.
Através da graça do Espírito Santo somos iluminados para compreender a ordem de tudo que é criado por Deus. Neste dia, podemos perceber que tudo que Deus criou para nós é um dom Dele para nossa vida. Quando esta verdade penetra nosso ser, passamos a nos relacionar melhor com todas as coisas, seja o ser humano ou outra obra criada por Deus. Quem nos capacita na razão para vivermos como filhos e nos relacionarmos com tudo nesta dimensão é a força do Espírito Santo.
Vamos orar, pedindo ao Espírito Santo que nos ilumine e dê força. Pedir que nos ilumine para enxergarmos e compreendermos que toda criação de Deus é dom para nós, o que Ele nos dá é dom para nossa vida. Pedir força para amar, para se deixar ser amado. Refletindo sobre isso, percebemos que, deixando Deus nos conduzir, somos aprimorados para realizar a sua vontade. Com toda abertura de coração, peçamos para que o Espírito Santo nos leve cada vez mais a “buscar o amor, a verdade e o bem”. Lembrando sempre que Deus nos fez sua imagem e semelhança, portanto, se Deus é Amor, somos movidos, impulsionados, motivados a viver o amor, a verdade e o bem. Nosso coração foi criado para amar, e desta forma que nos realizamos: amando. A vivência do amor nos leva a querer praticar o bem; a prática constante do bem nos leva a viver de maneira virtuosa.
Uma das maneiras de retomar nossa vivência quanta a prática do bem é assumindo que somos criados para ser amor, reconhecendo que muitas vezes nossas ações de distanciaram dessa prática. Por isso, podemos, com o auxilio do Espírito Santo, recorrer a palavra de Deus em 2Cor 5, 19-20, que diz: “Porque é Deus que, em Cristo, reconciliava consigo o mundo, não levando em conta mais os pecados dos homens, e pôs em nossos lábios a mensagem da reconciliação. Portanto, desempenhamos o encargo de embaixadores em nome de Cristo, e é Deus mesmo que exorta por esse intermédio. Em nome de Cristo vos rogamos: reconciliai-vos com Deus!”. Se queremos, na liberdade de nossa vontade, exercer o desejo de Deus em nós, vamos nos aproximar de Deus reconhecendo quem é Ele, portanto reconciliando com a Santíssima Trindade, Pai, Filho, Espírito Santo, nosso criador, redentor e santificador, com o único propósito de praticar o bem.
Sexta-feira
O Catecismo da Igreja Católica nos diz, nos números 1730 e seguintes: “Deus criou o homem dotado de razão e lhe conferiu a dignidade de uma pessoa agraciada com a iniciativa e domínio de seus atos. A liberdade é o poder, baseado na razão e na vontade, de agir ou não agir, de fazer isto ou aquilo, portanto de praticar atos deliberados. A liberdade é no homem uma força de crescimento e amadurecimento na verdade e na bondade. Quanto mais praticar o bem, mais a pessoa se torna livre. Não há verdadeira liberdade a não ser a serviço do bem, da verdade e da justiça. A escolha da desobediência e do mal é um abuso e conduz à escravidão do pecado”.
Irmãos, percebemos o quanto o ser humano busca a liberdade, mas, muitas vezes, não tem a compreensão do que seja realmente “liberdade”. Hoje somos agraciados por Deus a refletir que “quanto mais praticar o bem, mais a pessoa se torna livre”. Se entrarmos nesta perspectiva, significa que a prática do mal me escraviza.
Deus nos criou para vivermos em liberdade. Ele mesmo, na loucura do seu amor para conosco, nos deixa livres na escolha do bem ou do mal. Sabendo de nossas dificuldades, Deus nos presenteia com Sua Palavra, para refletirmos e orarmos com ela. Veja o que São Paulo instrui na carta aos Romanos 9,17-21: “Não pagueis a ninguém o mal com o mal. Aplicai-vos a fazer o bem diante de todos os homens. Se for possível, quanto depender de vós, vivei em paz com todos os homens. Não vos vingueis uns aos outros, caríssimos, mais deixai agir a ira de Deus, porque esta escrito: a mim a vingança, a mim exercer a justiça, diz o Senhor (Dt 32,35). Se o teu irmão tiver fome, dá-lhe de comer, se tiver sede dá-lhe de beber. Procedendo assim, amontoarás carvões em brasa sobre a sua cabeça (Pr 25,21). Não te deixas vencer pelo mal, mais triunfa do mal com o bem”. Façamos nossa oração pessoal com esta Palavra.
Sábado com Maria
De acordo com nossa caminhada nesta quaresma, todos os sábados, estamos orando com a Virgem Maria, e de maneira especial podemos contar e muito com o auxílio dela, pois em sua vida vemos claramente a prática do bem. Ela se fez escrava de Deus e foi livre em tudo. Na vida dela, percebemos a disposição em fazer o bem. Para ela o exercício do bem era feito com facilidade.
Para nos enriquecer vamos percorrer neste dia o caminho do calvário com Maria. Em cada mistério deste terço que vamos rezar, paramos um instante para refletir na entrega de Maria e na disponibilidade de deixar de praticar o bem mesmo em momento de maior dor, quanto vê seu filho sendo conduzido a morte.

sexta-feira, 11 de março de 2011

Mensagem do papa Bento XVI para a Quaresma


 “Sepultados com Ele no batismo, foi também com Ele que ressuscitastes” (cf. Cl 2, 12).
Amados irmãos e irmãs!
A Quaresma, que nos conduz à celebração da Santa Páscoa, é, para a Igreja, um tempo litúrgico muito precioso e importante, em vista do qual me sinto feliz por dirigir uma palavra específica para que seja vivido com o devido empenho. Enquanto olha para o encontro definitivo com o seu Esposo na Páscoa eterna, a Comunidade eclesial, assídua na oração e na caridade laboriosa, intensifica o seu caminho de purificação no espírito, para haurir com mais abundância do Mistério da redenção a vida nova em Cristo Senhor (cf. Prefácio I de Quaresma).
1. Esta mesma vida já nos foi transmitida no dia do nosso Batismo, quando, “tendo-nos tornado partícipes da morte e ressurreição de Cristo” iniciou para nós “a aventura jubilosa e exaltante do discípulo” (Homilia na Festa do Batismo do Senhor, 10 de Janeiro de 2010).
São Paulo, nas suas Cartas, insiste repetidas vezes sobre a singular comunhão com o Filho de Deus realizada neste lavacro. O fato que na maioria dos casos o Batismo se recebe quando somos crianças põe em evidência que se trata de um dom de Deus: ninguém merece a vida eterna com as próprias forças. A misericórdia de Deus, que lava do pecado e permite viver na própria existência «os mesmos sentimentos de Jesus Cristo», é comunicada gratuitamente ao homem.
O Apóstolo dos gentios, na Carta aos Filipenses, expressa o sentido da transformação que se realiza com a participação na morte e ressurreição de Cristo, indicando a meta: que assim eu possa “conhecê-Lo, a Ele, à força da sua Ressurreição e à comunhão nos Seus sofrimentos, configurando-me à Sua morte, para ver se posso chegar à ressurreição dos mortos” (Fl 3, 10- 11). O Batismo, portanto, não é um rito do passado, mas o encontro com Cristo que informa toda a existência do batizado, doa-lhe a vida divina e chama-o a uma conversão sincera, iniciada e apoiada pela Graça, que o leve a alcançar a estatura adulta de Cristo.
Um vínculo particular liga o Batismo com a Quaresma como momento favorável para experimentar a Graça que salva. Os Padres do Concílio Vaticano II convidaram todos os Pastores da Igreja a utilizar «mais abundantemente os elementos batismais próprios da liturgia quaresmal» (Const. Sacrosanctum Concilium, 109). De fato, desde sempre a Igreja associa a Vigília Pascal à celebração do Batismo: neste Sacramento realiza-se aquele grande mistério pelo qual o homem morre para o pecado, é tornado partícipe da vida nova em Cristo Ressuscitado e recebe o mesmo Espírito de Deus que ressuscitou Jesus dos mortos (cf. Rm 8).
Este dom gratuito deve ser reavivado sempre em cada um de nós e a Quaresma oferece-nos um percurso análogo ao catecumenato, que para os cristãos da Igreja antiga, assim como também para os catecúmenos de hoje, é uma escola insubstituível de fé e de vida cristã: deveras eles vivem o Batismo como um ato decisivo para toda a sua existência.
2. Para empreender seriamente o caminho rumo à Páscoa e nos prepararmos para celebrar a Ressurreição do Senhor – a festa mais jubilosa e solene de todo o Ano litúrgico – o que pode haver de mais adequado do que deixar-nos conduzir pela Palavra de Deus? Por isso a Igreja, nos textos evangélicos dos domingos de Quaresma, guia-nos para um encontro particularmente intenso com o Senhor, fazendo-nos repercorrer as etapas do caminho da iniciação cristã: para os catecúmenos, na perspectiva de receber o Sacramento do renascimento, para quem é batizado, em vista de novos e decisivos passos no seguimento de Cristo e na doação total a Ele.
O primeiro domingo do itinerário quaresmal evidencia a nossa condição dos homens nesta terra. O combate vitorioso contra as tentações, que dá início à missão de Jesus, é um convite a tomar consciência da própria fragilidade para acolher a Graça que liberta do pecado e infunde nova força em Cristo, caminho, verdade e vida (cf. Ordo Initiationis Christianae Adultorum, n. 25). É uma clara chamada a recordar como a fé cristã implica, a exemplo de Jesus e em união com Ele, uma luta «contra os dominadores deste mundo tenebroso» (Hb 6, 12), no qual o diabo é ativo e não se cansa, nem sequer hoje, de tentar o homem que deseja aproximar-se do Senhor: Cristo disso sai vitorioso, para abrir também o nosso coração à esperança e guiar-nos na vitória às seduções do mal.
O Evangelho da Transfiguração do Senhor põe diante dos nossos olhos a glória de Cristo, que antecipa a ressurreição e que anuncia a divinização do homem. A comunidade cristã toma consciência de ser conduzida, como os apóstolos Pedro, Tiago e João, «em particular, a um alto monte» (Mt 17, 1), para acolher de novo em Cristo, como filhos no Filho, o dom da Graça de Deus: «Este é o Meu Filho muito amado: n’Ele pus todo o Meu enlevo. Escutai-O» (v. 5).
É o convite a distanciar-se dos boatos da vida quotidiana para se imergir na presença de Deus: Ele quer transmitir-nos, todos os dias, uma Palavra que penetra nas profundezas do nosso espírito, onde discerne o bem e o mal (cf. Hb 4, 12) e reforça a vontade de seguir o Senhor. O pedido de Jesus à Samaritana: “Dá-Me de beber” (Jo 4, 7), que é proposto na liturgia do terceiro domingo, exprime a paixão de Deus por todos os homens e quer suscitar no nosso coração o desejo do dom da “água a jorrar para a vida eterna” (v. 14): é o dom do espírito Santo, que faz dos cristãos “verdadeiros adoradores” capazes de rezar ao Pai “em espírito e verdade” (v. 23). Só esta água pode extinguir a nossa sede do bem, da verdade e da beleza! Só esta água, que nos foi doada pelo Filho, irriga os desertos da alma inquieta e insatisfeita, “enquanto não repousar em Deus”, segundo as célebres palavras de Santo Agostinho.
O domingo do cego de nascença apresenta Cristo como luz do mundo. O Evangelho interpela cada um de nós: ”Tu crês no Filho do Homem?”. “Creio, Senhor” (Jo 9, 35.38), afirma com alegria o cego de nascença, fazendo-se voz de todos os crentes. O milagre da cura é o sinal que Cristo, juntamente com a vista, quer abrir o nosso olhar interior, para que a nossa fé se torne cada vez mais profunda e possamos reconhecer n’Ele o nosso único Salvador. Ele ilumina todas as obscuridades da vida e leva o homem a viver como “filho da luz”.
Quando, no quinto domingo, nos é proclamada a ressurreição de Lázaro, somos postos diante do último mistério da nossa existência: “Eu sou a ressurreição e a vida... Crês tu isto?” (Jo 11, 25-26). Para a comunidade cristã é o momento de depor com sinceridade, juntamente com Marta, toda a esperança em Jesus de Nazaré: “Sim, Senhor, creio que Tu és o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo» (v. 27).
A comunhão com Cristo nesta vida prepara-nos para superar o limite da morte, para viver sem fim n’Ele. A fé na ressurreição dos mortos a esperança da vida eterna abrem o nosso olhar para o sentido derradeiro da nossa existência.
Deus criou o homem para a ressurreição e para a vida, e esta verdade doa a dimensão autêntica e definitiva à história dos homens, à sua existência pessoal e ao seu viver social, à cultura, à política, à economia. Privado da luz da fé todo o universo acaba por se fechar num sepulcro sem futuro, sem esperança. O percurso quaresmal encontra o seu cumprimento no Tríduo Pascal, particularmente na Grande Vigília na Noite Santa: renovando as promessas batismais, reafirmamos que Cristo é o Senhor da nossa vida, daquela vida que Deus nos comunicou quando renascemos “da água e do Espírito Santo”, e reconfirmamos o nosso firme compromisso em corresponder à ação da Graça para sermos seus discípulos.
3. O nosso imergir-nos na morte e ressurreição de Cristo através do Sacramento do Batismo, estimula-nos todos os dias a libertar o nosso coração das coisas materiais, de um vínculo egoísta com a “terra”, que nos empobrece e nos impede de estar disponíveis e abertos a Deus e ao próximo. Em Cristo, Deus revelou-se como Amor (cf 1Jo 4, 7-10). A Cruz de Cristo, a “palavra da Cruz” manifesta o poder salvífico de Deus (cf. 1Cor 1, 18), que se doa para elevar o homem e dar-lhe a salvação: amor na sua forma mais radical (cf. Enc. Deus caritas est, 12). Através das práticas tradicionais do jejum, da esmola e da oração, expressões do empenho de conversão, a Quaresma educa para viver de modo cada vez mais radical o amor de Cristo. O Jejum, que pode ter diversas motivações, adquire para o cristão um significado profundamente religioso: tornando mais pobre a nossa mesa aprendemos a superar o egoísmo para viver na lógica da doação e do amor; suportando as privações de algumas coisas – e não só do supérfluo – aprendemos a desviar o olhar do nosso «eu», para descobrir Alguém ao nosso lado e reconhecer Deus nos rostos de tantos irmãos nossos. Para o cristão o jejum nada tem de intimista, mas abre em maior medida para Deus e para as necessidades dos homens, e faz com que o amor a Deus seja também amor ao próximo (cf. Mc 12, 31).
No nosso caminho encontramo-nos perante a tentação do ter, da avidez do dinheiro, que insidia a primazia de Deus na nossa vida. A cupidez da posse provoca violência, prevaricação e morte: por isso a Igreja, especialmente no tempo quaresmal, convida à prática da esmola, ou seja, à capacidade de partilha. A idolatria dos bens, ao contrário, não só afasta do outro, mas despoja o homem, torna-o infeliz, engana-o, ilude-o sem realizar aquilo que promete, porque coloca as coisas materiais no lugar de Deus, única fonte da vida.
Como compreender a bondade paterna de Deus se o coração está cheio de si e dos próprios projetos, com os quais nos iludimos de poder garantir o futuro? A tentação é a de pensar, como o rico da parábola: «Alma, tens muitos bens em depósito para muitos anos...». «Insensato! Nesta mesma noite, pedir-te-ão a tua alma...» (Lc 12, 19-20). A prática da esmola é uma chamada à primazia de Deus e à atenção para com o próximo, para redescobrir o nosso Pai bom e receber a sua misericórdia.
Em todo o período quaresmal, a Igreja oferece-nos com particular abundância a Palavra de Deus. Meditando-a e interiorizando-a para a viver quotidianamente, aprendemos uma forma preciosa e insubstituível de oração, porque a escuta atenta de Deus, que continua a falar ao nosso coração, alimenta o caminho de fé que iniciamos no dia do Batismo. A oração permite-nos também adquirir uma nova concepção do tempo: de fato, sem a perspectiva da eternidade e da transcendência ele cadencia simplesmente os nossos passos rumo a um horizonte que não tem futuro. Ao contrário, na oração encontramos tempo para Deus, para conhecer que “as suas palavras não passarão” (cf. Mc 13, 31), para entrar naquela comunhão íntima com Ele “que ninguém nos poderá tirar” (cf. Jo 16, 22) e que nos abre à esperança que não desilude, à vida eterna.
Em síntese, o itinerário quaresmal, no qual somos convidados a contemplar o Mistério da Cruz, é «fazer-se conformes com a morte de Cristo» (Fl 3, 10), para realizar uma conversão profunda da nossa vida: deixar-se transformar pela ação do Espírito Santo, como São Paulo no caminho de Damasco; orientar com decisão a nossa existência segundo a vontade de Deus; libertar-nos do nosso egoísmo, superando o instinto de domínio sobre os outros e abrindo-nos à caridade de Cristo. O período quaresmal é momento favorável para reconhecer a nossa debilidade, acolher, com uma sincera revisão de vida, a Graça renovadora do Sacramento da Penitência e caminhar com decisão para Cristo.
Queridos irmãos e irmãs, mediante o encontro pessoal com o nosso Redentor e através do jejum, da esmola e da oração, o caminho de conversão rumo à Páscoa leva-nos a redescobrir o nosso Batismo. Renovemos nesta Quaresma o acolhimento da Graça que Deus nos concedeu naquele momento, para que ilumine e guie todas as nossas ações. Tudo o que o Sacramento significa e realiza, somos chamados a vivê-lo todos os dias num seguimento de Cristo cada vez mais generoso e autêntico. Neste nosso itinerário, confiemo-nos à Virgem Maria, que gerou o Verbo de Deus na fé e na carne, para nos imergir como ela na morte e ressurreição do seu Filho Jesus e ter a vida eterna.
BENEDICTUS PP XVI

Retiro da Quaresma - Tempo de Consertar as Redes I Semana

Reflexões para o retiro da quaresma

Hoje iniciamos um período importante em nossa caminhada. Deus nos proporciona este tempo de graça, para buscá-lo mais, entrar em intimidade com Ele, de olhar para nós mesmos com o auxilio do Espírito Santo e reparar nossas arestas. É tempo de conversão, de penitência, de jejum. É tempo de graça, de misericórdia de Deus em nossas vidas.
Juntos, estaremos percorrendo um caminho de bênção durante esta quaresma. De maneira muito precisa, durante estas semanas que se aproximam, vamos mergulhar nos seguintes pontos, que são princípios de vida para nós nestes tempos: I – Consciência de nossa Identidade; II – Princípio do bem; III – Princípio da verdade; IV – Partilha; V – Apoiados na cruz de Cristo. Em cada semana da quaresma vamos refletir e orar com um desses princípios, sabendo que é um tempo onde damos abertura para Deus nos moldar.
De acordo com esses direcionamentos unamo-nos em oração a fim de que em cada semana da quaresma, fortalecidos através da oração, da leitura da palavra, dos compromissos com as práticas espirituais, possamos vivenciar de maneira profunda a ação poderosa do Espírito Santo em nossas vidas.
Vamos realizar estas reflexões em forma de retiro espiritual. Portanto é muito importante analisar nossa vida e perceber qual é a área que precisa de reconstrução, onde precisamos “consertar nossas redes”(Lc 5,2b). Encontrando as situações que precisam ser revistas, restauradas, consertadas, vamos decidir quais as práticas espirituais que estaremos exercitando neste período. É bom lembrar que é tempo propício para jejum, oração, confissão, esmola, leitura orante da Palavra.
Para começar, respondamos as seguintes perguntas:
a) Qual é a intenção que vamos fazer nosso retiro?
b) Qual é a prática espiritual que vamos exercitar?
Nosso roteiro diário de orações terá os seguintes passos:
1 Iniciamos todos os dias pedindo a ação do Espírito Santo para que Ele nos conduza e nos faça perseverante.
2 Lemos a leitura da Palavra de Deus.
3 Façamos nossa reflexão.
4 Concluamos com uma oração.
Lembramos que esta também é uma oportunidade de refletirmos sobre esses pontos em nossos Grupos de Oração, utilizando essas reflexões para ajudar nosso povo a avançar na vida de oração e conversão.

Quarta-feira de cinzas

Que a primeira atitude nossa, neste dia, seja se programar para participar da missa de cinzas. Indo a santa missa, vamos colocar para Deus nossas intenções para o retiro da quaresma.
Prestemos bastante atenção nesta celebração e ao recebermos as cinzas sintamos que temos a necessidade de conversão de crer no evangelho, por isso de coração aberto acolhemos o que a Igreja nos pede: “Convertei-vos e crede no evangelho”.
Para nos ajudar mergulhamos na Palavra de Deus: “Agora diz o Senhor, voltai para mim com todo vosso coração e com jejuns, lágrimas e gemidos; rasgai o coração, e não as vestes, e voltai para o Senhor, vossos Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia, inclinado a perdoar o castigo”. (Joel 2,12-13).
A primeira atitude nossa será “voltar para o Senhor de todo nosso coração”, assumindo que “agora é o momento favorável, agora é o dia da salvação”(II Cor 6,2)
Façamos nosso reflexão e oração com esta Palavra.
Quinta-feira – 10 de março
“Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”. (Lc 9,23)
Auxiliados por esta Palavra, vamos refletir em três pontos neste dia:
Renunciar a si mesmo – olhar para palavra renuncia não como peso, mas sobretudo como oportunidade de tirar o que não nos pertence. Olhar para si, verificando com o auxilio do Espírito Santo, todos os acessórios que coloquei em minha vida e como consequência perdi a essência do que Deus criou para mim. Onde tenho ocupado meu tempo? Como estão minhas vontades? Deixe que o Espírito Santo vá te revelando o que precisa diminuir em sua vida para que Cristo cresça mais e mais. Até verifique o que é necessário deixar de praticar, ou seja, renunciar.  Quando renunciamos algo por amor ao plano de Deus, não perdemos, pelo contrário ganhamos.
Tomar a sua cruz – muitas vezes vivemos em atitude de reclamações, de murmurações, enxergamos somente os problemas, nos tornamos amargos. Hoje também somos convidados pela Palavra de Deus a mergulhar no significado de “tomar”, “assumir” a cruz. Irmãos, cruz nos lembra sofrimentos e muitas vezes temos dificuldades de vivê-los, de enfrentar a dor. Portanto, hoje vamos também louvar a Jesus porque Ele nos ensina como devemos assumir nossa cruz, porque é através dela que chegamos à ressurreição. Vamos louvá-lo até pelas situações que são semelhantes a “cruz” em nossa vida para que através delas possamos nos fortalecer.
Segui-lo – Ao assumir esse tempo em nossa vida, significa que já demos nosso sim a Jesus, portanto já estamos seguindo –O. Mas este seguimento tem suas exigências. Seguimos quem amamos, quem nos identificamos, quem nos dá segurança. Quando nos colocamos como seguidores de Cristo, aderimos ao que Ele tem para nos ensinar, para viver, aprendemos com Ele nossa maneira de ser. Nós cristãos não caminhamos sozinhos pelas estradas da vida, caminhamos seguindo Jesus, temos um norte, não somos desgovernados. Vamos agradecer a Jesus porque antes mesmos de tomarmos a decisão de segui-lo, temos a graça de sermos chamados por Ele.

Sexta-feira – 11 de março

“Tende de piedade, ó meu Deus, misericórdia! Na imensidão de vosso amor, purificai-me! Lavai-me todo inteiro do pecado e apagai completamente a minha culpa!” (Sl 50)
Hoje é sexta-feira é um dia em que muitos fazem jejum. Podemos nos apoiar nesta prática espiritual do jejum e com o poder da Palavra de Deus permitir que a misericórdia de Deus venha nos lavar e nos purificar.
De acordo com a imensidão do amor de Deus, hoje vamos pedir perdão ao Senhor pelos nossos pecados. Façamos um exame de consciência, assumamos nossas faltas e recorremos ao perdão de Deus.
Rezemos com o salmo 50 neste dia.

Sábado – 12 de março

Sábado é um dia dedicado a Virgem Maria, então, peçamos hoje a intercessão dela para que nós também vivamos na graça de Deus. De maneira especial neste dia, antes de refletir sobre a Palavra de Deus, vejamos o que o papa Bento XVI nos ensina na Exortação pós sinodal Verbum Domini, nº28: Maria, “Fala e pensa com a Palavra de Deus; esta torna-se palavra d’Ela, e a sua palavra nasce da Palavra de Deus...os seus pensamentos estão em sintonia com os de Deus, que o d’Ela é um querer juntamente com Deus”. Muito rico esta expressão “fala e pensa com a Palavra de Deus”, assim é a vida dela toda centrada na vida de Deus.
Agora auxiliados pelo que nos diz a Palavra de Deus, vamos refletir para que também nós possamos falar e pensar conforme nos orienta a voz de Deus: “se destruirdes os teus instrumentos de opressão e deixares os hábitos autoritários e a linguagem maldosa...o Senhor te conduzirá sempre e saciará tua sede na aridez da vida, e renovará o vigor do teu corpo...teu povo reconstruirá as ruínas antigas; tu levantarás os fundamentos das gerações passadas: serás chamado reconstrutor de ruínas, restaurador de caminhos, nas terras a povoar.”(Is58,9-13). Como é interessante observarmos a expressão “se destruirdes os teus instrumentos de opressão e deixar os hábitos autoritários”, a Palavra nos convida a uma atitude de destruir instrumentos de opressão. E, quais são os instrumentos que te oprimem? Analisemos e apresentemos ao Senhor. A Palavra também nos pede para deixarmos hábitos autoritários. Aqui podemos pensar, quais são os momentos em que temos atitudes autoritárias, que queremos ter vantagens, que utilizamos da autoridade sem caridade? Seguindo a Palavra percebemos que se abandonarmos tais práticas o “Senhor te conduzirá sempre e saciará a sede na aridez da vida”. Esta Palavra é convite a decisão, se agirmos conforme nos pede o Senhor, sentiremos um novo vigor. Podemos orar assumindo esta Palavra em nossa vida, desejando ser livres do que nos oprime, aceitando os propósitos de Deus e sendo revigorado por Ele.
Estamos vivendo um período de reconstrução, e esta passagem vem nos apresentar uma belíssima promessa: “reconstruir ruínas antigas, levantar os fundamentos das gerações”, podemos recordar o que tanto trabalhamos no retiro da quaresma do ano passado quando refletíamos na reconstrução dos muros de Jerusalém, reconstruindo nossa identidade, nossa espiritualidade, nossa vida. Hoje, podemos pensar que ao cumprir a Palavra de Deus, Ele nos reconstrói, vai até nossas origens, “levanta os fundamentos das gerações”, os alicerces de nossa história. Irmãos, com a intercessão de Nossa Senhora, pensemos nesta Palavra e deixemos que uma grande intervenção de Deus aconteça em cada um de nós.
Domingo – 13 de março
Quem somos? Somo criados a “imagem e semelhança de Deus” (Gn 1,27). Esta é a verdade sobre nós. Quando mergulhamos nesta verdade Deus nos revela a nossa origem, pois, ser criado a “imagem e semelhança de Deus” é o mesmo que dizer sou criado a imagem e a semelhança do “amor”, assim com o nos ensina 1Jo 4, 8b: “Deus é amor”.
Se Deus é amor e eu sou imagem e semelhança Dele, eu fui criado no amor para com Ele ser amor, refletir esse amor.
Neste dia, temos a oportunidade de mergulhar nesta verdade, DEUS É AMOR, e eu SOU IMAGEM E SEMELHANÇA DE DEUS. Meus irmãos, muitas vezes o pecado deixou marcas em nós que deturparam a nossa semelhança de Deus. Hoje temos a graça de poder mergulhar na Palavra de Deus que é “fonte renovadora” e deixar o nosso Deus renovar em nós o que somos e quem somos. Outra passagem que nos ajuda neste aspecto é o salmo 138, 14 “Sede bendito por me haverdes feito de modo tão maravilhoso. Pelas vossas obras tão extraordinárias, conheceis até o fundo de minha alma”.
Que riqueza está contida nesta passagem: sou feito de modo maravilhoso, o amor me fez, o amor é minha essência, minha origem é o amor. Podemos orar neste dia apresentando a Deus tudo que aconteceu no decorrer de nossa história e afastou de nós a imagem e semelhança de Deus em nossas ações, em nossas palavras, em nosso jeito de ser. Tudo que tentou nos enganar levando-nos a se esquecer que “somos feito de modo maravilhoso”. Querido irmãos, quantas vezes a cultura do corpo, da moda, do ter, do poder, tirou de nós a atenção sobre a maravilha ao qual fomos criados, a maneira tão maravilhosa pela qual Deus nos fez. Quantas vezes pessoas tentaram através de palavras colocar em nós complexos, fazer-nos sentir inferiores a outros. Somos lindos, temos a imagem e semelhança de Deus implantada em nossa alma. Fomos criados de modo maravilhoso, somos obras extraordinárias de Deus.
Com esses versículos, oremos hoje para que Deus nos lave em seu amor e nos conduza a nossa essência: o amor! Sou amado, nasci para ser amor. Tenho a graça de receber e dar amor. Minha origem é maravilhosa, minha essência é extraordinária!
Sou amado por Deus! Nesta certeza louvamos a Deus por tudo que Ele criou em nós, pela nossa vida, pelos nossos pais, pela nossa saúde, pela sua providencia em nós.
Segunda-feira – 14 de março
Nesta semana onde Deus nos permite refletir e orar para ampliar a consciência de nossa identidade, podemos mergulhar na palavra de São Paulo que nos ensina: “Vossos corações enraizados e fundamentados no amor” (Ef 3,17) .
Vimos que nossa origem é o amor, portanto ele é a base de nossa identidade de filhos de Deus. Quando refletimos que estamos enraizados e fundamentados no amor, chegamos a conclusão que toda nossa vida recebe as graças do amor. Nesta dimensão, oramos deixando que as raízes de nossa vida possam absorver do amor o alimento que necessitamos para lutar contra toda espécie de desamor. Hoje é dia de recebermos de Deus este remédio infalível contra toda doenças de desamor. É tempo de continuar nossa reconstrução espiritual, de aumentar nossa consciência de identidade de filhos de Deus criados a sua imagem e semelhança.
Quando nós refletimos sobre o sermos amados por Deus, é bom lembrarmos que Ele nos ama com nossas qualidades, fraquezas, pecados e, assim, quando reconhecemos nossas misérias também reconhecemos que somos necessitados da misericórdia de Deus.
Queridos, hoje vamos nos apresentar a Deus como estamos, da maneira que nos sentimos diante do nosso amado Senhor, porque na sua misericórdia Ele quer nos restaurar, nos modelar, nos fortalecer, nos curar e purificar nossa vida.
Terça-feira – 15 de março
“Sede, pois, imitadores de Deus, como filhos muito amados” (Ef 5,1). Bendito seja Deus, que nos concedeu um exemplo a seguir: Jesus Cristo! Ao pensar na palavra “imitadores”, talvez ela nos pese, mas quando olhamos para a expressão “como filhos amados”, somos aliviados. Podemos imitar a Jesus como Filhos amados, esta é uma referencia de identidade, “filhos amados”.
Meu irmão esta é a palavra que devemos tomar posse: “somos amados”. Diante dela rezemos hoje, deixando que o amor se levante em nossa história. Não vamos mais ficar com pena de nós mesmos quando começamos a lembrar dos fatos que aconteceram em nossa vida e não gostamos de lembrar. 
Hoje podemos louvar a Deus porque Ele nos ensina com quem devemos nos assemelhar. Neste louvor, podemos recordar dos grandes feitos de Jesus por amor a cada um de nós, pelas suas palavras que são palavras de vida eterna, pelo seu sangue redentor em nossa vida, pelos grandes sinais de prodígios e milagres que aconteceram em nossa família, por Ele se fazer alimento para nós na Eucaristia, por podemos conversar com Jesus, por não ficarmos sozinhos. Cada vez que rendemos um louvor a Jesus, Ele se manifesta em nós com bênçãos, com graças, com prodígios. Veja, se hoje podemos louvar, estamos reconhecendo quem Jesus é em nossa vida e, se isso acontece, significa que sabemos como devemos imitar Jesus.
Quarta-feira – 16 de março
“Progredi na caridade, segundo o exemplo de Cristo, que nos amou e por nós se entregou a Deus como oferenda e sacrifício de agradável odor” (Ef 5,1).
Podemos seguir as palavras com as quais São Paulo ensina a comunidade de Éfeso, porque mais uma vez ele se refere ao exemplo que podemos seguir de Cristo Jesus.
Que tal olharmos para Jesus como aquele que em nenhuma circunstancia guardou rancor? Aquele que, mesmo sendo humilhado, voltou-se para o pai e disse-lhe: “Perdoa porque eles não sabem o que fazem”. Podemos olhar para Jesus e apresentar a Ele todas as dificuldades que ainda temos de relacionamentos, de amor fraterno, de perdoar, de dar o perdão.
Depois de apresentar essas dificuldades podemos nos apoiar na palavra que diz “amai-vos uns aos outros com afeição terna e fraternal” (Rm 12,10). Conforme vamos deixando o amor tomar conta de nossa vida, percebemos que o nosso medo de amar vai diminuindo. Pois quanto mais somos curados em nossa imagem, mais vamos nos abrindo para sermos ternos e afetuosos.
Neste dia, pela graça do amor, podemos ter uma atitude de amor, vamos fazer um telefonema para alguém que precisa de um gesto de amor, enviar uma mensagem, um torpedo... Enfim, de alguma maneira manifestar o amor de Deus em palavras e gestos.
Quinta-feira – 17 de março
“Ilumine Senhor os olhos do vosso coração para que eu compreenda a esperança a que fostes chamados” (Ef 1,18-19).
Mais um dia de benção em nossa vida! Esta semana esta sendo abençoada, o amor está inundando nossa vida. Se pensamos em inundar, lembramos logo de muita água. A água lava, limpa, torna fértil o terreno, é fonte de vida. É exatamente isso que esta acontecendo conosco, água viva de Deus esta nos lavando, nos limpando, nos dando vida nova. Esta obra divina nos faz enxergar mais a fundo quem somos e a que sou chamado.
A palavra que hoje meditamos leva-nos a pedir que sejam iluminados os olhos do coração, para compreender a esperança a que fomos chamados. Oremos com a Palavra repetindo várias vezes: “Ilumine Senhor os olhos do meu coração”, pensemos que muitas vezes nosso coração é cego diante do amor, porque está cheio de coisas que lembram o desamor. Em cada lembrança que o Espírito Santo permitir lembrar, vamos repetir ilumine Senhor os olhos do meu coração!
Outra parte do versículo que podemos repetir é: “Que eu compreenda a esperança a que fui chamado (a)”. Meus irmãos, quantas vezes ficamos desesperançados, perdemos as forças, atolamos nossos sentimentos em apegos exagerados a coisas, a pessoas e nos esquecemos de olhar para aquele que nos deu a vida. Repetir várias vezes esta frase não é para decorá-la, é para que nossa mente e nosso coração sintam o efeito da Palavra em nossa vida.
Sexta-feira – 18 de março
“Fiquei imensamente contente no Senhor porque vi reflorescer o vosso interesse por mim” (Fl 4,10).
Temos motivos para louvar a Deus nesta primeira semana da quaresma. Ele, com todo seu amor, nos faz entrar na dimensão de nossa identidade de filhos. Nos recorda que somos imagem e semelhança, que estamos enraizados em seu coração, que somos purificados no seu amor misericordioso e quantas outras verdades foram atualizadas em nossa vida. Por isso, posso afirmar com todas as letras que fico “imensamente contente no Senhor”. E, quando estamos contentes, nossa primeira atitude é sorrir, é expressar nossa alegria, é louvar. Vamos juntos dar louvores ao Senhor que nos renova, que atualiza em nós a alegria de sermos filhos amados Dele, por não estarmos sozinhos, por sentir que Ele se interessa por nós.
Através dos louvores, Deus estará curando nossos corações das vezes que nos sentimos inferiores a outros irmãos, dos sentimentos que não somos valorizados. Louvando a Deus somos libertados de tristezas, angústias, vazios interiores, solidão, e mais assumimos que Ele é todo poderoso em nossa vida. E louvando vamos trazendo para nós quem é Deus, a alegria que brota em nós é imensa! Então, louvores e louvores ao Senhor.
Sábado – 19 de março
Neste sábado, queremos contar mais uma vez com a intercessão de Nossa Senhora. Sua vida foi toda voltada para a realização da vontade de Deus em sua vida. Com ela, temos a oportunidade de adentrar na meditação da vida de Jesus. Rezemos neste dia a oração do Santo Terço e, ao meditar cada mistério, permitamos unir nossa vida ao que Jesus viveu. Realizamos esta oração com nosso coração agradecido a Deus por todos as bênçãos que derramou em nós nesta semana.
Ao terminar o terço vamos louvar a Deus com a passagem do Magnificat.